O princípio VII da Declaração dos Direitos da Criança, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1959, afirma que: “A criança deve desfrutar plenamente de jogos e recriações…”.
Algo que, numa primeira análise, nos parece óbvio e natural. Mas talvez não seja assim se refletirmos sobre o tempo das nossas crianças e jovens.
O que fazem na escola, entre os tempos dos afazeres académicos? E depois desta? Atividades? De que tipo? Com que frequência estão na rua? Ou entre amigos, envolvidos numa atividade espontânea e de lazer?
E nós? Quantas vezes chegamos nós, adultos, ao fim do dia cansados? E lhes permitimos “mergulhar” nos equipamentos tenológicos porque só queremos tratar dos afazeres domésticos e, se possível, descansar um pouco.
E “ficam pelo caminho” as conversas, os jogos em família, as brincadeiras de rua… ficou perdido o tempo para brincar e o tempo para aprender através do brincar!
Pois bem, então é fulcral falar do BRINCAR pois é através dele que se desenvolvem incalculáveis capacidades motoras, emocionais ou sociais. A brincar aprende-se sobre nós, os outros e o meio. Aprendem-se regras, novas formas de resposta às interações, a correr, a socializar, negociar, resolver conflitos, a lidar com as frustrações, a saber ouvir um sim ou um não. Aprende-se sobre o risco e a segurança.
E podíamos continuar… e relacionar as brincadeiras com as aprendizagens “disciplinares”, vistas como “académicas”: através do brincar aprendemos a Matemática, a Língua, o Estudo do Meio e outras áreas do saber.
Com brincadeiras, jogos, entre pares, com a escola ou em família, transversalmente vão-se desenvolvendo aprendizagens significativas que definirão os adultos em que as crianças/jovens se tornarão um dia.
Como diz o título, “a brincar também se aprende”, e isto é independente das idades, gerações, culturas ou evoluções das formas de brincar. O brincar, em si mesmo, leva à motivação intrínseca para agir, relacionar, criar laços e recordações e ficar feliz!
Que não retiremos às nossas crianças e jovens o Direito a Brincar!
Que não percamos nós, adultos, a capacidade de brincar: com eles e connosco!
É, por isso, emergente deixar a ideia pré-concebida dos adultos sobre o brincar: que se trata apenas de algo para entreter ou que é permitido às crianças/jovens como forma de recompensa por determinado comportamento. Ao contrário, quantas mais forem as experiências permitidas e promovidas, dentro ou fora de portas, com ou sem materiais, mais estaremos a contribuir para o sucesso das suas aprendizagens, do seu desenvolvimento global e da sua felicidade!
“O brincar está em vias de extinção!
Vive-se como se fosse uma atividade, cada vez mais, fugidia de fim-de-semana.
Vive-se cada vez menos com o corpo, com os outros e ao ar livre.
Vive-se como se fosse um adereço do crescimento e não tanto como a sua vitamina indispensável.
Quem não brinca não imagina e não pensa.
E não junta aquilo que sente a tudo o que descobre.
Quem não brinca não aprende. Não convive. E não sonha. E não costura histórias.
As crianças precisam do brincar como o seu mais precioso respirar.
Junte-se às crianças. Salve o brincar!” (Sá, 2000)